A síndrome do dedo azul (SDA) é a manifestação cutânea de um grande número de doenças que produzem um envolvimento isquêmico ( de falta de sangue) agudo (rápida) ou subagudo em um ou mais dedos. É caracterizada por um dedo cianótico( azulado) com um pé quente e bem perfundido- logo este pé recebe ainda suprimento sanguíneo do corpo.
O dedo que sofre de isquemia adquire um tom azul ou violeta, que dá nome à síndrome, e pode nele ocorrer fenômenos de necrose- quando o dedo se torna preto e pode apodrecer. Também podem ocorrer sintomas sistêmicos derivados da isquemia causada pelo impacto deste coágulo de colesterol em outros órgãos, tais como o rim e o intestino delgado. Frequentemente, o rim é o ógão que mais é afetado, estando afetado em aproximadamente 50% dos casos.
A causa mais frequente de SDA é a diminuição do fluxo sanguíneo devido ao envolvimento ou oclusão (quando o sangue não passa mais pela artéira) de pequenos vasos periféricos, contudo os pulsos dos pés continuam palpáveis. A diminuição do fluxo sanguíneo pode ser causada por diferentes mecanismos de doença, incluindo trombose, embolia quando um pequeno coágulo não permite passagem do sangue pela artéria, vasoconstrição grave ( quando a artéria diminui seu calibre) ou condição da parede vascular inflamatória ou não inflamatória.
Embora as primeiras descrições da SDA correspondessem a casos produzidos pela embolização de material de coágulos de uma placa arteriosclerótica (coágulos de colesterol), os mecanismos que dão origem a essa síndrome são variados e incluem outras causas de diminuição fluxo arterial, diminuição do retorno venoso e hiperviscosidade sanguínea (conhecido popularmente como “ sangue grosso”). Algumas das outras causas possíveis incluem a síndrome de Raynaud, trauma, aterosclerose e trombose venosa. Essas descolorações azuladas são geralmente vistas nas pontas dos dedos e estão associadas a dor ou dormência.
Diagnóstico
É importante destacar que trata-se de um diagnóstico de exclusão logo devemos descartar outras possibilidades de doença. A peça chave para o diagnóstico da Síndrome do dedo azul é a forma do aparecimento, a coloração violácea mostrando sinais de embolização mas sempre em vasos melhores, preservando os pulsos distais. Por isso uma avaliação clínica criteriosa é sempre necessária, para excluir doenças que coloquem a perna em risco de amputação.
O diagnóstico pode se dar através da suspeita de um paciente com aterosclerose( placas de colesterol) definida e que apresenta de forma súbita: lesões de pele típicas (lesões cutâneas),lesão renal aguda ou subaguda, dor abdominal e diarreia. São paciente que normalmente ou foram submetidos a procedimento vascular, ou há um trauma de abdome recente.
Tratamento:
O tratamento inicial consiste no estabelecimento de terapia antiplaquetária. Em relação ao tratamento sintomático é indicado realizar o manejo da dor, manter a zona acometida aquecida, realizar repouso, hidratação e suporte orgânico quando necessário, a fim de garantir a função renal do paciente.
O tratamento definitivo visa a eliminação da causa da embolização pela via cirúrgica ou intraluminal. Isso envolve agir sobre a lesão arteriosclerótica, seja por meio de procedimentos intravasculares (stent ou angioplastia com stent), seja por meio de procedimentos cirúrgicos (endarterectomia ou bypass com exclusão do foco embólico), para alcançar a eliminação do foco embólico.
Quando a necrose do dedo é estabelecida e bem definida, o desbridamento (retirada de algumas camadas da pele) ou a amputação são indicados. Nos casos em que a amputação precisa ser realizada, essa é feita tentando respeitar, tanto quanto possível, as articulações dos dedos, a fim de facilitar o apoio do pé do paciente.
Dr. Felipe Zoppas – Cirurgião Vascular | RQE 18305
Dr. Herton Lopes – Cirurgião Vascular | RQE 15286
Dr. Roberto Heck – Cirurgião Vascular | RQE 35545
Dr. Vinícius Lain – Cirurgião Vascular | RQE 20132/20232
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