As úlceras venosas são lesões crônicas associadas à hipertensão venosa dos membros inferiores e correspondem a um percentual que varia de 80 a 90% das úlceras encontradas nesta localização[1] e podem acometer desde indivíduos jovens até os mais idosos[2]
Geralmente ocorrem quando as válvulas das veias das pernas estão danificadas e o fluxo sanguíneo, que deveria ocorrer das veias superficiais para as veias profundas, passa a fluir sem direção ocasionando hipertensão venosa, fazendo com que os capilares se tornem mais permeáveis propiciando que macromoléculas, como fibrinogênio, hemácias e plaquetas, passem para o espaço extra vascular.
Este evento causa alterações cutâneas como edema, eczema, hiperpigmentação e lipodermatoesclerose, fazendo com que a pele fique mais sensível e propícia ao surgimento de uma lesão. Alguns fatores de risco são: veias varicosas, quadros anterior de trombose venosa profunda na perna afetada, flebite na perna afetada, fratura, trauma ou cirurgia anterior, história familiar de doenças venosas, sintomas de insuficiência venosa (dores nas pernas, sensação de pernas cansadas, inchaço, lesões na pele, pigmentação e eczema)[1]
A úlcera venosa representa um desafio para os profissionais de saúde, por ser um agravo crônico, recorrente e com impacto biopsicossocial, além de constituem-se um sério problema de saúde pública, em função do grande número de pessoas acometidas, por necessitar de cuidados em saúde, provocar ausência do trabalho ou perda do emprego, contribuindo para onerar o gasto público, além de provocar o sofrimento das pessoas e a interferência na sua qualidade de vida.
Independente da faixa etária acometida é observado impacto tanto no aspecto físico como psicossocial, que incluem a dor, dificuldades para se locomover, limitações no trabalho doméstico, nas atividades sociais, vergonha de expor as pernas, limitação das atividades de lazer e restrições na vida conjugal. Por isso, necessitam de cuidados apropriados e de forma resolutiva, com vista ao restabelecimento da saúde das pessoas e seu retorno às atividades cotidianas.
Considerando a importância de um atendimento adequado a esta população, há necessidade da atuação de uma equipe multiprofissional, na qual está inserida a enfermagem, que se destaca por prestar atendimento, na avaliação ampliada das pessoas com úlceras venosas, avaliação das lesões, realização de curativos e encaminhamentos necessários, além de ações educativas para evolução favorável do processo de cicatrização e prevenção do aparecimento de lesões e ocorrência de recidivas.[2]
O tratamento mais efetivo é feito com a compressão, que deve ser usada em pessoas com úlceras venosas que tenham um adequado suprimento arterial do pé e que não tenham diabetes nem artrite reumatóide. A efetividade das meias e bandagens de compressão dependem da habilidade do paciente em aplicá-las. Em pessoas em uso de compressão deve-se cobrir a úlcera. Há várias opções para isso e todas mostraram-se igualmente efetivas (curativos adesivos prontos de hidrocolóide, gaze embebida em dersani, filme plástico ou gaze úmida com soro fisiológico).
O paciente deve ser orientado a colocar a compressão (meia ou bandagem) ao acordar-se pela manhã e só retirar ao deitar-se à noite. O tempo para cura é variável, mas pode-se esperar bom resultado em 12 a 16 semanas. Mesmo após a cura da úlcera a compressão é comprovadamente efetiva na prevenção de recorrência de úlceras venosas.
Marcas de meias elásticas no mercado: Sigvaris®, Selecta ®, Jobst®, Venosan®, Segreta®, Kendall®, entre outras. Para indicar o uso devemos medir o membro sem edema no tornozelo, panturrilha e coxa para que o paciente adquira a meia de tamanho adequado.Outra opção está entre os diversos tipos de curativos elástico multi camadas de alta compressão que são fabricados com uma camada de material (um fármaco) preenchedor (diversos tipos são usados) seguidos uma a quatro camadas de bandagens elásticas. Um estudo mostrou superioridade clínica do uso de três camadas contra o uso de quatro camadas. São curativos industrializados e geralmente caros no nosso meio.
Há ainda a opção da Bota de Unna, que é um curativo inelástico de camada única. A bota de Unna é o curativo com bons resultados mais usado em saúde pública no Brasil por ter um custo relativamente baixo. É um composto de óxido de zinco, glicerina, loção de calamina (opcional) e gelatina envolto por ataduras. Pode ser elaborado em farmácias de manipulação ou comprado pronto. É trocado 1X por semana ou até a cada 2 semanas.
Para sua colocação, a perna deve ficar elevada durante toda a noite anterior e o tecido necrótico (se houver) deve ser previamente debridado. A bota é aplicada diretamente sobre a pele, estendendo-se da articulação metatarsofalangeana até um pouco abaixo do joelho. O tempo de existência da úlcera e seu tamanho permitem estimar a probabilidade de que ela cicatrize com o uso da bota de Unna. Úlceras com mais de 6 meses e maiores de 5 cm tendem a demorar mais para fechar. A bota de Unna está contra-indicada na suspeita de arteriopatia periférica ou infecção local. Com a bota o paciente deve ser orientado a deambular o máximo possível para se evitar a anquilose.
Todos os tratamentos acima têm suas efetividades comprovadas por ensaios clínicos randomizados de boa qualidade. Um estudo de boa qualidade não mostrou diferença entre curativos elásticos multi-camadas de alta compressão, badagens curtas elásticas e bota de Unna. Uma série de outras opções têm sido usadas, mas ainda sem dados suficientes para atestar seus efeitos. São eles: Compressão pneumática contínua ou intermitente, agentes debridantes e curativos semi-oclusivos com espumas, filmes plásticos, curativos com derivados do ácido hialurônico, colágeno ou celulose.
Modernamente, quando há varizes nutrindo essas feridas, injeção de espuma densa acelera bastante a cicatrizarão. Além dos tratamentos tópicos apresentados há também o uso de agentes anti microbianos tópicos, como pentoxifilina oral 400 mg 3X ao dia mostrou-se benéfico como tratamento adjuvante para o fechamento das úlceras venosas de perna. Os flavonóides orais parecem exercer, também um efeito benéfico para o fechamento destas úlceras. Com relação à prevenção de recorrência, além da compressão, cirurgia de varizes, também é efetiva.[3]
Dr. Felipe Zoppas – Cirurgião Vascular | RQE 18305
Dr. Herton Lopes – Cirurgião Vascular | RQE 15286
Dr. Roberto Heck – Cirurgião Vascular | RQE 35545
Dr. Vinícius Lain – Cirurgião Vascular | RQE 20132/20232
[1]VETTORI, Thalita Neiva Breda, Úlcera venosa: abordagem do enfermeiro no cuidado ao paciente, 2019. Disponível em: <https://pebmed.com.br/ulcera-venosa-abordagem-do-enfermeiro-no-cuidado-ao-paciente/#:~:text=A%20insufici%C3%AAncia%20venosa%20cr%C3%B4nica%20(IVC,%C3%A0%20obstru%C3%A7%C3%A3o%20do%20fluxo%20venoso.>
[2]SANT’ANA, Sílvia Maria Soares Carvalho; BACHION, Maria Márcia ; SANTOS, Queiliene Rosa; NUNES, Cynthia Assis Barros; MALAQUIAS, Suelen Gomes; OLIVEIRA, Beatriz Guitton Renaud Baptista, Úlceras venosas: caracterização clínica e tratamento em usuários atendidos em rede ambulatorial, 2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-71672012000400013&script=sci_arttext>
[3] BVS Atenção Primária em Saúde, Qual o tratamento mais efetivos para úlceras venosas?, 2008. Disponível em: <https://aps.bvs.br/aps/qual-o-tratamento-mais-efetivo-para-ulceras-venosas/>